Mulheres da Bíblia: Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 2736Josué 17:3-18; (+Referências: Gn 33:19, 50:24-25; Ex 13:19, Js 18:9, 23, 24:21-32; Jz 1:27-28; Jo 4:5; At 7:16). Esse post é a quinta e última sequência de histórias sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Tirza protagoniza a cena. O primeiro conto foi sobre Macla, o segundo sobre Noa, o terceiro sobre Hogla e o quarto sobre Milca. Boa leitura!

Tirza Zelofeade


O povo de Israel estava com acampamento estabelecido em Gilgal, aguardando a conquista das terras. Tirza, embora estivesse adaptada àquela vida, esperava confiante o dia em que estaria em sua propriedade de direito. Os olhos dela, fixos na estrada, tentavam enxergar a figura do mensageiro do exército israelita em meio à poeira e distância.

Parte da tribo de Manassés já possuía sua herança a leste do Rio Jordão dada por Moisés, ainda assim eles pelejavam junto ao exército de Israel pela conquista de toda a Canaã. Os filhos de José, Efraim e Manassés, formavam duas tribos, porque Israel os havia tomado como filhos seus. Efraim e a outra metade da tribo de Manassés, da qual Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza faziam parte, aguardavam sua porção a ser conquistada. As batalhas prosseguiam sangrentas e longas, mas a vitória sempre era do povo de Deus.

Tirza percebeu a agitação entre os principais de sua tribo. O mensageiro estava chegando com notícias da peleja da terra que caberia por herança à tribo manassita. Ela e a sua família se dirigiram para o portal da tribo, onde uma multidão já se formava para ouvir a notícia.

O mensageiro, em tom alto e forte, anunciou:

— Mais uma vitória!

O grito de celebração do povo foi unânime. O mensageiro pediu silêncio ao povo:

— A terra é muito fértil, entretanto, encontramos dificuldades em conquistar as fortalezas dos cananeus na planície de Jezreel, ao norte, por causa de seus carros de ferro.

Aquela notícia abafou os festejos da multidão. Entretanto, no coração de Tirza a fé a deixava resoluta da vitória completa. Ela sabia que carros de ferro, fortalezas, gigantes não eram páreos para o SENHOR dos Exércitos. É certo que após anos de lutas incansáveis o povo ou o exército poderia tender ao esmorecimento, mas, ela sabia a quem recorrer.

O mensageiro correu ao próximo portal para dar o anúncio às demais tribos e a multidão começou a se dispersar repetindo a nova entre si. Tirza correu à tenda de oração das mulheres, queria ser a primeira a chegar. Cada tarde as mulheres israelitas se reuniam para orar em favor do exército de Israel. Não demorou muito e outras mulheres se juntaram a Tirza, quando Macla chegou, ficou próxima à irmã.

A oração de Tirza era um misto de agradecimentos e súplica. A própria Tirza iniciou a reunião dando uma palavra de esperança:

— Acabamos de ouvir a notícia que esperamos por tanto tempo. Nós estamos mais perto que nunca de nos estabelecermos em nossa própria terra. Não é tempo de desfalecer, vamos intensificar nossas orações e vigilância. Já sabíamos que essa terra fértil estaria habitada por pagãos, gigantes e guerreiros dispostos a defendê-la.

As mulheres estavam ouvindo atentamente, algumas com o cenho franzido de preocupação, outras sedentas por uma palavra de conforto. Tirza continuou:

— O SENHOR sempre deixou claro que Ele mesmo nos daria a vitória. Não seria pela espada de nossos corajosos guerreiros, nem mesmo pela força do braço deles que nossa terra seria conquistada. Mas, sempre o SENHOR, pela mão direita do SENHOR, pelo braço do SENHOR e pela luz do rosto do SENHOR. Tudo para provar o quanto o SENHOR nos ama.

As mulheres mais idosas lacrimejavam, sentindo paz interior nas palavras asseguradas pelo SENHOR e relembradas por Tirza. Umas se abraçaram às outras e começaram a entoar uma canção de louvor a Deus que brotava do fundo do coração. Elas acreditavam no amor de Deus, confiavam na sonhada vitória.

Horas depois os guerreiros manassitas chegaram ao acampamento trazendo consigo os despojos da batalha e os frutos da terra. A chegada deles trouxe grande consolo para as esposas e mães saudosas, os filhos pulavam tamanha a alegria. Eles descreviam com muita empolgação e admiração toda a riqueza em água, fertilidade e beleza da terra que o SENHOR lhes dava.

A mudança estava prestes a começar, não demorou muito e Tirza ouviu o anúncio da partida:

— Povo de Israel, nosso líder Josué convoca a todos para juntos adorarmos ao SENHOR em Siló, local onde a Tenda do Encontro será estabelecida. Lá também serão lançadas as sortes e distribuídas as terras conforme suas divisões perante o SENHOR.

Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza se juntaram e deram as mãos, elas iriam se apresentar a Josué para receberem a herança prometida.

Ao chegar em Siló, o povo se acomodou em suas tendas, em suas respectivas tribos, e a grande festa teve início com muitos louvores, sacrifícios e holocaustos ao SENHOR.

Terminada a celebração, Tirza despertou com o som da trombeta convocando todo o arraial para uma reunião solene. Cada tribo se levantou e se reuniu para ouvir o importante pronunciamento acerca da divisão das terras que Josué faria.

A mensagem proferida por Josué chegava ao ouvido de todo o povo com a ajuda de homens posicionados em lugares estratégicos que repetiam a fala do grande líder.

— Grande é o povo do SENHOR, grande e fértil é a Terra que o SENHOR vos deu. Repartiremos hoje cada tribo em seu lugar.

As cinco irmãs, Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza, estavam juntas novamente, dessa vez acompanhadas por seus maridos e filhos, aguardando a distribuição da herança da tribo de Manassés. Por ordem, as tribos foram citadas até chegar à tribo de Manassés:

— A tribo de Manassés tem sua parte dividida além do Jordão, mas também dentro de Canaã, junto à Efraim.

Nesse momento, as cinco filhas de Zelofeade se aproximaram de Josué e dos príncipes, e Macla, a primogênita das irmãs, se pronunciou:

— O SENHOR ordenou a Moisés que nos desse herança no meio de nossos irmãos, desde que nos casássemos com nossos primos, conforme a ordem do SENHOR assim fizemos. E aqui estamos nós, relembrando aos senhores essa ordem e também requerendo nossa porção.

Os olhos de Josué brilharam, ele – que era da tribo de Efraim, irmão de Manassés – se alegrava sempre que encontrava servos de Deus, obedientes, fiéis e pacientes, como elas.

— Não nos esquecemos. Vocês receberão um quinhão cada uma, no meio da herança dos irmãos de seu pai.

A alegria, contentamento e realização se tornou visível nas feições delas. Entretanto, a casa de José, composta pelos efraimitas e manassitas, trouxeram uma questão à tona: a terra deles não havia sido completamente tomada, havia os cananeus e seus carros de ferro ao norte.

— Josué, vede o quanto Deus nos fez crescer e prosperar. E a herança que nos foi dada não é proporcional à nossa grandeza e riquezas.

Josué tossiu ao rir:

— Se és um grande povo como diz ser, habitem no bosque ao sul, nas montanhas de Efraim, basta que cortem as árvores.

Eles replicaram:

— O bosque nos montes, ao sul, não seria suficiente para nós, e ao norte, na Planície de Jezreel, não podemos habitar devido a resistência dos cananeus, com suas cidades fortificadas e seus carros de ferro.

Josué suspirou e disse:

— Realmente vocês são muitos e tem também uma grande força. Cortem o bosque ao sul, habitem lá. Quanto aos cananeus ao norte vocês conseguirão expulsá-los, ainda que tenham carros de ferros e sejam fortes.

Josué ainda tinha uma lista de outras sete tribos com terras por conquistar:

— Até quando sereis negligentes em possuir toda a terra que o SENHOR vos deu? Vão conquistá-la e me tragam um mapa com a demarcação da terra, depois repartiremos diante do SENHOR as sete partes que faltam!

Os capitães, guerreiros de cada tribo se uniu em só exército, saíram com a benção de Deus e só voltariam com a vitória completa.

Tirza e as demais mulheres de Israel mantinham um ciclo de oração contínuo, elas entendiam que a guerra também era espiritual.

Os cananeus quando viram o grande exército de Israel, acabaram estendendo a bandeira branca, mas não quiseram deixar a terra, assim se tornaram tributários dos israelitas.

O exército seguiu em frente, conquistando toda a terra. A demarcação da terra conquistada foi feita pelos vinte e um homens designados por Josué, três de cada tribo, eles realizaram a devida anotação num livro.

O retorno do vitorioso exército israelita foi comemorado por dias. As mulheres cantavam, dançavam e tocavam seus tamborins. As crianças pulavam festejando. Os despojos os deixaram muito ricos! A terra era fertilíssima! A alegria era completa.

Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza deram as mãos, formando um grande círculo, incluindo seus maridos e filhos, fecharam os olhos para agradecerem juntos a Deus pela conquista:

— SENHOR queremos te agradecer por atender nossa petição… – Foi o que Macla conseguiu dizer, sua garganta embargou com uma enxurrada de lágrimas de gratidão.

— O SENHOR provou que nos ama. E nós queremos te dizer que também te amamos. Agradecemos ao SENHOR, por nos oferecer o teu amor. E te agradecemos pela tua graça em nos fazer aceitáveis diante de ti. – Noa completou com o coração acelerado.

Hogla continuou a oração de agradecimento:

— Somos gratas por abençoar nossos casamentos que foram preparados e escolhidos pelo SENHOR.

— Queremos te agradecer também por dar descendência ao nosso pai. SENHOR, eu te agradeço pelos nossos filhos, pela saúde e força. – Milca abriu os olhos para contemplar cada filho e sobrinhos.

Tirza finalizou a oração:

— SENHOR, nós te agradecemos por nos tirar do Egito, por nos guiar pelo deserto, por nos fazer conquistar e possuir essa terra próspera. O SENHOR é fiel para conosco, e, como somos filhas tuas, queremos ser igualmente fiéis a ti.

Josué despediu todo o povo a seus lugares e possessões. O povo saiu com o coração transbordante de alegria. A terra que as aguardava era muito linda, o verde a perder de vista, os frutos suculentos e saborosos, águas cristalinas, tinham tudo e em fartura.

Quando a primeira estaca da tenda foi fincada, Tirza lembrou-se do significado de seu nome: Aprazível. Deus havia acabado de cumprir o desejo do coração de seu pai, dando a elas uma terra cujo prazer se estenderia por gerações. Tirza continuou seu trabalho com um sorriso no rosto.

Quando toda a terra estava em paz, Josué tornou a convocar os anciãos, líderes e oficiais de Israel, reuniu todo o povo na cidade de Siquém, que pertencia aos filhos de José.

— José, filho de nosso patriarca Israel, sonhou com este dia, confiante na palavra dita por Deus a nosso pai, Abraão, de que daria toda essa terra à sua descendência. Por isso, José fez seus irmãos prometerem que não o deixaria ser enterrado no Egito, mas que seus ossos seriam transportados quando o povo de Israel saísse do Egito, para ser enterrado em Canaã. Após 234* anos da morte de José, os seus ossos finalmente serão enterrados, aqui, na Terra Prometida e Conquistada. Deus tem nos mostrado sua fidelidade ao cumprir Sua Palavra, agora é a vez de vocês mostrarem fidelidade a Deus para que alcancem a Canaã Celestial.

Todo o povo fez uma promessa solene de que seriam fiéis ao SENHOR. E no coração de Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza ardia o desejo de serem herdeiras da Canaã de Deus, e elas não se importavam quanto tempo mais esperariam.

*José morreu por volta do ano de 1606 a. C. e o sepultamento de seus ossos ocorreu por volta de 1372 a. C., totalizando 234 anos de espera.
Referência:
A Bíblia em Ordem Cronológica: Nova Versão Internacional/edição autorizada da obra de Edward Reese (org.); tradutor Judson Canto (títulos e textos explicativos). São Paulo: Editora Vida, 2003.

Mulheres da Bíblia: Milca, a filha de Zelofeade (N° 4)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 27 e 36 e Levítico 12:1-8. Esse post é a quarta sequência de histórias sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Milca protagoniza a cena. O 1º conto foi sobre Macla, o 2º sobre Noa e o 3º sobre Hogla. Boa leitura!

Milca Siquém Zelofeade

Milca havia se divertido durante a gravidez, sem enjoos, aproveitou cada chute do bebê, ela até mesmo rira do desespero do marido quando a bolsa estourou. A situação começou a mudar quando as contrações chegaram. As gotas de suor, o rosto contraído, as lágrimas, as mãos frias e a dor tornavam o quadro do parto aterrorizante para Milca, mas não para Queila, parteira em Israel. Ela estava satisfeita com a dilatação, ajudava Milca a sincronizar o ritmo da respiração e a incentivava com palavras gentis.

Siquém estava agitado e muito preocupado, ficou próximo ao local reservado às mulheres nesse estado. Próximo o suficiente para ouvir os gritos de sua esposa, quanto mais Milca gritava, mais aflito ficava. Ele sentava, para no mesmo instante levantar-se e andar igual a um leão enjaulado, sem qualquer controle ou percepção do que fazia. Iniciava preces, para logo ser interrompido com os gritos de dor da sua esposa. Ele afirmava que estava tudo bem, mas não relaxava e começava a ficar mal-humorado com a espera. Os seus familiares tentavam em vão travar algum assunto para que se distraísse durante o processo, mas desistiram ao perceber que ele só sossegaria ao ouvir o choro do bebê. Quando Milca terminou de dar o grito mais alto a parteira anunciou:
— É um menino!
E logo em seguida o choro vigoroso do bebê fez Siquém rir alto.

Milca recebeu seu filho enrolado em lençóis limpos, ela esqueceu de toda a dor ao contemplar a beleza do pequeno.

— Milca! – Era Siquém que havia invadido o recinto arrebatado de emoção – Ele se parece comigo ou com você?

— Venha e veja por si mesmo. – Ela ajeitou o bebê em seus braços – Acho que ele se parece com o avô.

— Ele se parece com meu pai, Semida?

— Não. Com meu pai, Zelofeade.

Siquém olhou para ela sorrindo:

— Ele será o segundo Zelofeade, é isso?

O bebê produziu um pequeno ruído, os pais riram da objeção do pequeno. Eles guardaram segredo a respeito do nome do filho, só revelariam no momento oportuno.

Enquanto Milca permanecia separada, até que se completasse os sete dias ordenados na lei, ela se deliciava em aprender a cuidar de seu filho, tudo a deixava extasiada, ela aprendia a identificar os tipos de choro dele, e nas primeiras noites mal conseguiu dormir, mas por puro excesso de cuidados. No sétimo dia ela se banhou e preparou o bebê para a cerimônia de circuncisão no dia seguinte.

O pequeno era a mais nova sensação da família. Todos queriam conhecê-lo e levaram presentes para ele. O próprio Siquém circuncidou seu filho:

— Como sinal que você pertence ao Eterno e faz parte da grande nação de Israel, em cumprimento ao pacto de nosso pai Abraão, você será limpo hoje. – Siquém circuncidou o filho e continuou: – Eu te nomeio Zelofeade, filho de Siquém e de Milca, filha de Zelofeade, filho de Gileade, filho de Maquir, filho de Manassés, filho de José, filho de Israel, filho de Isaque, filho de Abraão.

Ele elevou seu filho ao alto, as bochechas de Zelofeade ficaram rosadas, até conseguir chorar e ficar com o rostinho todo vermelho. Os presentes sorriram emocionados. Milca sorria entre lágrimas, achava graça em como Siquém já ansiava ensinar a lei de Deus para seu filho, e chorava agradecida em saber que era mais abençoada do que supunha. A herança dela, a terra, o esposo e o primeiro filho, era um memorial da graça de Deus, que não deixou seu falecido pai sem descendentes.

Após cumpridos os trinta e três dias da purificação de Milca, conforme a ordenança de Deus, a pequena família se reuniu para ir à porta da Tenda do Encontro oferecer um cordeiro de um ano por holocausto e o sacerdote Eliezer abençoou o robusto Zelofeade:

— Que o SENHOR multiplique sua força e te faça crescer em sua tribo. – Virando-se para os orgulhosos pais, ele falou: – E também vos dê mais filhos!

Clique no link para ler a quinta e última história da sequência:
Mulheres da Bíblia: Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

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[As Filhas de Zelofeade – PDF]

Mulheres da Bíblia: Hogla, a filha de Zelofeade (N° 3)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 27 e 36. Esse post é a terceira sequência de histórias sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Hogla protagoniza a cena. O primeiro conto foi sobre Macla, o segundo sobre Noa. Boa leitura!

Hogla Filha de Zelofeade

— Hogla, é de livre e espontânea vontade que você aceita Amom como seu legítimo esposo?
Ela sorriu com os lábios, olhou diretamente para os olhos castanhos daquele que havia escolhido para ser seu esposo e respondeu:
— Sim.

A luz suave do sol iluminava todo o ambiente, que estava bem arejado. As flores do campo estavam estrategicamente dispostas não somente para adornar, mas para levar a fragrância por todo o recinto. Os assentos permitiam que os convidados tivessem uma visão clara dos noivos.
Amom virou-se para sua noiva com um largo sorriso que exprimia toda a felicidade do mundo, estendeu as mãos para Hogla e os dois permaneceram de mãos dadas. Hogla anotara mentalmente cada detalhe de seu noivo, prestara atenção em cada promessa feita por ele com o coração jubiloso, ela o conhecia bem, sabia que não eram palavras vazias, a palavra de Amom era zelada como sua própria honra. Ela admitia não ter o coração mole, mas cada gesto e palavras dele a tocavam profundamente. Hogla se sentia amparada por Deus, estava rodeada por sua família e tinha o amor do homem que mais admirava.

O celebrante era ninguém menos que Heleque, pai de Amom, tio de Hogla e cabeça de seu clã, um príncipe em Israel.
— Aqui estão Hogla e Amom. É sabido de todo o Israel a ordem específica do SENHOR para as filhas de nosso saudoso sobrinho Zelofeade, que elas se tornariam herdeiras de suas próprias terras, na tribo de Manassés, e também que escolheriam para si varões de seu próprio agrado, contanto que estes pertencessem ao mesmo clã da tribo de seu pai.

Os convivas se olhavam com ternura e emoção, admirados da proximidade e interesse demonstrados por Deus a eles. Entre eles estavam as irmãs da noiva: Macla acompanhada de Esrom, seu esposo, e filhos; Noa estava ladeada por seu esposo Israim, a protuberante barriga dela anunciava o primeiro filho deles; juntas Milca e Tirza, emocionadas com a cerimônia, seguravam lencinhos para limpar as insistentes lágrimas.

Heleque continuou o discurso:
— E coube aos valorosos manassitas conquistarem os corações das belas filhas de Zelofeade. Hogla, você escolheu muito bem, pois não está se casando com um homem fora de sua tribo, está honrando a Deus com essa escolha e o SENHOR está te abençoando com um homem que a ama e que prometeu cuidar de você. De agora em diante você tem o dever de usar sua sabedoria em obediência a Amom. ‒ Olhando para Amom, Heleque disse: Amom, meu filho, você é privilegiado pelo Eterno por cumprir o mandado do SENHOR, que o amor enraizado em seu coração por Hogla se fortaleça cada dia mais e daí produza muitos frutos.

A mãe e os irmãos de Amom afirmavam com a cabeça em sinal de aprovação. Heleque olhando para a plateia convoca todos a se levantarem:
— Estendemos pois, agora, nossas mãos aos Céus, suplicantes ao abençoador que estabeleça essa nova família fazendo-a crescer e se multiplicar sobre a terra que o SENHOR tem nos prometido.
Todos os presentes se colocaram de pé, estenderam as mãos aos céus e cada um deles fez uma prece de bençãos aos noivos. Heleque finalizou a oração com a benção de Israel e olhando para os noivos disse:
— Conforme as vossas declarações, com a benção de Deus e diante das testemunhas aqui presentes, eu vos declaro marido e mulher. Agora vocês serão uma só carne. Amom pode beijar sua esposa.

Amom afastou o delicado véu de sua esposa, tomou o rosto dela em suas mãos e beijou respeitosamente a testa de Hogla.

Leia os contos seguintes:
Mulheres da Bíblia: Milca, a filha de Zelofeade (N° 4)

Mulheres da Bíblia: Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

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As Filhas de Zelofeade – PDF

Mulheres da Bíblia: Noa, a filha de Zelofeade (N° 2)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 27 e 36. Esse post é a segunda história sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Noa protagoniza a cena. O primeiro conto foi sobre Macla. Boa leitura!

Noa

Noa caminhava para além do acampamento, admirando a paisagem. A terra da conquista a perder de vista. Sua vida havia passado por tantas mudanças. Sua irmã Macla já estava casada com seu primo Esrom. A próxima da lista seria ela. Contudo, não estava ansiosa.

O vento trouxe um burburinho anunciando a chegada de alguém. Ela sorriu e virou-se falando:

— Israim!

Era seu primo Israim, filho de Jezer, ele caminhava ao seu encontro:

— Noa, suas irmãs estão à sua procura, Macla chegou de visita.

— Acho que fui tão longe que estou perto de conquistar as terras vizinhas.

Israim sorriu, desfazendo o vinco entre os sobrolhos. Desde que Zelofeade morrera, ele se sentia ainda mais responsável em protegê-la. Noa tinha o espírito livre e não se preocupava com horários ou em caminhar solitária pelos campos.

Israim lhe respondeu:

— Sei onde te encontrar. Mas, cuidado porque está indo cada vez mais longe. Aqui pode haver…

Noa conhecia tanto a recomendação que já havia decorado, ela começou a falar ao mesmo tempo que ele:

— …‘Aqui pode haver feras e não é bom uma moça tão bonita andar desacompanhada’.

Ele parou e chamou:

— Vamos.

Noa deu uma última olhada para o horizonte distante e voltou em direção ao lar ladeada por ele.

Israim falou de repente:

— Está perto!

Noa estava distraída, levantou os olhos para ver se divisava a sua tenda. Olhou para Israim com uma expressão de interrogação. Ele completou:

— A hora de você se casar.

— Ah…

— Macla já está bem ajustada, você é a próxima.

— Não tenho pressa… Espero que seja algo especial. Talvez… ser conquistada primeiro, ele bem que poderia provar que me ama… E não só casar para cumprir seu dever.

— Hum? Cumprir o dever não deixa de ser nobre, honroso e amável.

Noa parecia reticente.

— Noa, um homem prova que será um bom marido quando ele é responsável, cumpre suas obrigações, se preocupa e protege as pessoas que ama!

— Continue…

— E além de tudo respeita a individualidade e privacidade da esposa.

Noa sorriu. Por um momento desconfiara que seu primo iria pedi-la em casamento. Israim abraçou-a, cobrindo-a com sua túnica. Noa parou de andar, arregalou os olhos e pronunciou num sussurro:

— Israim…

Israim a olhou profundamente, retirou o seu braço lentamente. Ele estava rubro e repentinamente recomeçou a andar sozinho. Noa ficou parada no mesmo lugar por alguns instantes. “Israim e eu, casados?”

Os dias se passaram e Noa não tivera mais contato com Israim. Ela ia e voltava dos campos só. Até que não se conteve mais e perguntou à sua irmã Hogla:

— Você tem notícias de Israim?

— Israim se juntou ao exército, acho que ele está…

Noa interrompeu afoita:

— …À procura de uma esposa.

— Uh?!

Hogla esperou por alguma explicação, mas Noa parecia distante. Desde aquela tarde algo dentro dela realmente despertara. “Então, isso seria amor?” Noa sentia falta de Israim, da sua voz, dos conselhos e tinha sobressaltos toda vez que lembrava de Israim retirando sua túnica de sobre seus ombros com desapontamento no olhar.

Ela interrompeu Hogla mais uma vez:

— O que você acha de Israim e eu?

Hogla arregalou os olhos sorrindo e disse:

— Ah! Finalmente!

— Finalmente o quê?

Noa abriu o coração para a irmã contando detalhadamente toda a aflição que lhe ia na alma. Hogla sorria se divertindo com toda a história:

— Acho que vocês dois formam um belo casal.

— Mas, eu achava que éramos como irmãos, ou amigos.

— Minha querida irmã, ele só estava esperando Macla se casar para lhe propor. E você ficou surpresa quando descobriu que gosta dele para ser seu esposo.

— Como é?

Hogla voltou ao seu trabalho sorrindo.

Noa se levantou pensativa, olhou o horizonte e saiu a andar pelo campo em direção ao horizonte. Os pensamentos a mil. Ela começou a perceber como realmente Israim era importante para ela. Era ele quem estava presente em todos acontecimentos, dos mais importantes aos mais singelos. Sempre ele preocupado com seu estado, saúde, ou qualquer coisa referente a ela. Era ele… Seria ele… “Como será?” Ela agora passou a imaginar como seria a vida dos dois juntos. Sim, combinava. Em contrapartida, toda vez que pensava no destino dos dois separados seu coração apertava como se fosse quebrar. E doía.

Sua vida havia passado por tantas mudanças e talvez fosse o tempo de mais mudanças. Noa estava dourada com o reflexo dos últimos raios de sol. O vento trouxe um burburinho anunciando a chegada de alguém. Ela sorriu e virou-se falando:

— Israim!

Era seu futuro esposo Israim caminhando ao seu encontro. Não era uma visagem. Ele lhe acenou, ela correu e segurou sua mão ainda no ar. Ele a olhou e sussurrou:

— Noa…

— Sim.

Israim desfez o vinco entre os sobrolhos lentamente e comprimiu os lábios num sorriso contido. O sol principiava a se pôr. Mas, no coração de ambos havia uma luz que principiava a irradiar cumplicidade.

Confira nos links abaixo os contos seguintes:

Hogla, a filha de Zelofeade (N° 3)

Milca, a filha de Zelofeade (Nº 4)

Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

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As Filhas de Zelofeade – PDF