Mulheres da Bíblia: Joquebede

Este excerto, do livro de Elben M. Lenz César, “DEIXEM QUE ELAS MESMAS FALEM: As mulheres da Bíblia com a palavra“, publicado pela Editora Ultimato, foi baseado na vida de Joquebede.

Meu nome é Joquebede, que quer dizer “Jeová é a minha glória”. Tenho algumas lembranças muito tristes, como o estupro de minha tia Diná e a vingança cruel que meu pai Levi e meu tio Simeão infligiram aos siquemitas. Sou casada com Anrão, que é meu sobrinho. Para mexer comigo, meu marido, de vez em quando, ele me chama de tia. Somos tementes a Deus. Acabamos de sair do Egito e estamos acampados ao pé do monte Sinai. Faraó custou a nos deixar sair e só o fez depois de grandes manifestações de julgamento da parte de Deus. Meus filhos Moisés e Arão foram os instrumentos que Deus usou para nos retirar do Egito. Nosso destino é Canaã, a terra que mana leite e mel, prometida aos nossos antepassados Abraão, Isaque e Jacó, que a percorreram de ponta a ponta. Estou bem avançada em anos. Não sei se chegarei até lá. Mas sinto-me realizada e profundamente grata a Deus por todos os seus benefícios.

Salvo do genocídio

Estou me lembrando agora de quando fiquei grávida pela terceira vez, há oitenta anos. A essa altura já tínhamos uma filha e um filho: Miriam e Arão. Os tempos eram muito difíceis. Faraó começava a apertar o cerco contra nós. Não valia a pena colocar mais filho no mundo. Anrão e eu evitávamos o relacionamento físico naqueles dias em que certamente poderia ocorrer uma gravidez. Mas houve um lapso e fiquei esperando um bebê. Orávamos diariamente para que fosse uma menina, porque Faraó havia ordenado a matança pura e simples de qualquer criança do sexo masculino nascida entre os hebreus. Era uma questão de segurança nacional, justificava o rei do Egito. Achamos por bem esconder a gravidez. Então passei a usar roupas ainda mais largas. De vez em quando uma comadre me dizia que eu estava engordando e eu, naturalmente, concordava com ela para encerrar a conversa o mais rápido possível. O parto foi bem discreto: meu marido mesmo cuidou de mim. Não era a menina que havíamos pedido insistentemente a Deus, mas um menino robusto e formoso. Todos nos entreolhamos e assumimos a situação. Como ninguém sabia da gravidez, resolvemos ocultar também a própria criança. A tarefa não foi fácil. As fraldas eram lavadas e estendidas dentro de casa para não chamar a atenção das pessoas. Acho que nenhum recém-nascido tomou tanto mel quanto esse nosso filho: mal ele começava a chorar, Miriam pingava uma gota de mel na boca do garoto. Se insistisse no choro, a família inteira entoava o mais alto possível os cânticos do Senhor. Éramos conhecidos como a família cantante. Não podendo escondê-lo por mais tempo, calafetamos com betume e piche um pequeno cesto de junco e nele colocamos o menino, então com 3 meses de idade. Eu mesma levei o cestinho e o larguei no carriçal à beira do rio Nilo, nas proximidades do sítio onde a filha de Faraó costumava banhar-se. Era um lugar mais ou menos seguro, longe da correnteza, a salvo dos crocodilos, da famosa tilápia nilótica (que chega a pesar 90 quilos) e do peixe-elétrico (que é capaz de produzir uma descarga de 300 a 400 volts). Meu medo maior era de um tipo de cobra venenosa chamada naja haie, comum no Egito. Mas todo o nosso plano foi preparado na presença e na dependência de Deus, com muita oração. Desde o nascimento do menino, tive o pressentimento de que ele era formoso também aos olhos de Deus. Voltei para casa e deixei Miriam nas proximidades do lugar onde o menino ficara.

Salvo das águas

Deus fez infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos. O plano deu certo. A filha de Faraó desceu ao rio dos rios e logo viu o estranho cestinho. Curiosa, ela mesma o tomou e o abriu. Meu filho chorava – estava molhado de xixi, com fome e sem as gotinhas de mel de Miriam – e a princesa se ligou imediatamente a ele. Ela era uma das sessenta filhas de Ramessés II e se chamava Merris. A jovem logo percebeu que o menino era filho de hebreus e o adotou. Nesse momento, Miriam entrou em cena e se ofereceu para chamar uma mulher hebreia para amamentar a criança até o desmame. A princesa deu o seu consentimento – afinal o garoto estava morto de fome e chorava sem parar. Minutos depois, lá estava eu com meu próprio filho ao seio, sem que Merris soubesse que eu era a mãe dele. Por ironia da história, até recebi salário para cuidar do menino. A filha de Faraó deu-lhe o nome de Moisés, que significa “salvo das águas”. Só então percebi que nossas orações devem ser flexíveis e inteiramente sujeitas à vontade e à sabedoria de Deus. Felizmente, o Senhor não as ouviu, quando lhe pedíamos que viesse uma menina e não um menino.

Salvo dos prazeres transitórios do pecado

Além de alimentar Moisés e lhe dispensar outros cuidados físicos, transmiti-lhe as primeiras impressões e informações recebidas de nossos ancestrais sobre Deus e sobre o nosso povo. Porém ele foi educado em toda a ciência dos egípcios. Tornou-se um homem poderoso em palavras e obras. Aos 40 anos, ele recusou ser chamado filho da filha de Faraó e se identificou conosco, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado. Abandonou o Egito e permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível. Mais tarde, já casado e com dois filhos, Deus lhe apareceu na terra de Midiã, numa chama de fogo, e o comissionou para liderar o êxodo de Israel. Ao voltar ao Egito, aconteceu uma coisa terrível: Deus veio ao seu encontro numa estalagem e o quis matar. Pode parecer muito estranho o Senhor querer destruir o instrumento que Ele mesmo escolheu, preparou e equipou. Moisés e Zípora, sua mulher, logo entenderam que tratava-se de uma advertência divina para que eles circuncidassem os filhos, cumprindo assim “o sinal da aliança” dado por Deus a Abraão e aos seus descendentes. Quanto ao êxodo e à nossa viagem até aqui, ao pé do monte Sinai, privo-me de narrar todos os fatos para não me alongar demais. […]

Maria de Magdala

Esse conto foi baseado em fatos reais, leia Lucas 8:2.
Jesus liberta.

Numa pequena aldeia da Galileia, chamada Magdala, uma mulher sobe numa torre rindo de si mesma escandalosamente, os cabelos soltos ao vento, o rosto transtornado. Todos em Magdala sabiam que Maria estava possuída por espíritos. Os médicos não deram jeito, nem os sacerdotes, então os guardas a vigiavam para que ela não cometesse qualquer loucura. Os suspiros deles denotavam o cansaço de ter que lidar com algo que os deixava impotente.

— Desça daí! Desça já!

Maria gargalhou mais alto. O rosto erguido para o céu desafiava os soldados. Com um instalar de dedos, eles combinaram:

— Vamos lá.

Foram subindo vagarosamente a escadaria sem fim.

— Ela bem que poderia ficar na prisão.

— Lembra da vez que tentamos fazer isso? Não tivemos paz. Ela gritava sem parar, espumava… Foi patético.

Agora Maria rodopiava perigosamente, ia e voltava próximo a mureta da torre. Ela bailava ao som da própria música estridente. Todos os lugares onde ia, era comum tirar a ordem e a paz das pessoas. Com muito trabalho e insistência os soldados conseguiram fazê-la descer.

À noite os sonhos perturbavam o sono de Maria, ela não conseguia dormir. Eram raros os momentos de lucidez. “Será que um dia eu terei paz?”

Maria se arrumou, saiu de casa para se alimentar e chegou a ouvir os comentários sobre o Príncipe da Paz, que curava e expulsava demônios. “Ele existe?” Ela continuou calada e com o ouvido aguçado. Descobriu que Ele estava pelos arredores da Galileia. Segredou uma decisão: “Eu irei até ele!”

Silenciosamente procurou não manifestar em voz alta o desejo de se libertar, certamente perturbaria os espíritos e eles não a deixariam ir. Mas, não foi necessário caminhar muito. Uma multidão alvoroçada entrava na aldeia. Maria sentiu um arrepio sombrio, já não estava mais em si mesma.

Os demônios a tomaram e deixaram-na presa ao chão. Os soldados quando viram, foram tirá-la do meio da rua. O escândalo estava feito, Maria gritava e os soldados não conseguiam removê-la para a multidão passar.

— Sou mais forte que vocês, somos sete. Não vamos sair.

Então, Jesus apareceu:

— Soltem-na.

Os soldados soltaram o frágil corpo da mulher, que inexplicavelmente ganhava uma força incrível. Maria espumava impropérios com uma voz grave e estrondosa.

Jesus olhou nos olhos da mulher, que reviravam selvagemente, e deu uma ordem aos sete espíritos que a atormentava:

— Saiam.

Os demônios saíram retorcendo o corpo de Maria, que caiu no chão desacordado.

— Mulher, Deus soube do seu desejo de se libertar. Acorde. Você está liberta.

Maria, recobrando os sentidos, com o olhar leve, focou na figura que o salvara: Jesus Cristo. Ela sentiu no coração um rio que lavava todo o seu interior. Tamanha transformação refletia em seu rosto, seus conterrâneos a olhavam com espanto. Mas, não era o costumeiro olhar aterrorizado. Era um olhar de grande surpresa, havia acontecido um milagre. Maria estava liberta. Ela se ajeitou ligeiramente, prendeu os cabelos e arrumou o véu da melhor forma que pôde ao redor de si. Aos pés do Príncipe da Paz, seu coração sussurrou uma promessa:

— Eu quero te seguir pra sempre, meu Senhor.

As lágrimas banharam o seu rosto, até que em alto e bom som, a voz da multidão glorificando a Deus se misturou ao louvor de Maria. As pessoas imediatamente começaram a trazer mulheres enfermas e pessoas endemoniadas para Jesus curar e libertar também.

Na pequena aldeia de Magdala houve paz. Os soldados não tinham mais de lidar com Maria, que a partir daquele dia ficou conhecida como Maria Madalena, a Maria de Magdala. Ela seguia Jesus de perto, absorvia cada palavra, tal qual um viajante no deserto sorve os preciosos goles de água. Ela andava quilômetros sem se dar conta da distância. Ela era prova viva de que outras mulheres também podem ser perdoadas e livres por Deus através de Jesus.

Mulheres da Bíblia: Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 2736Josué 17:3-18; (+Referências: Gn 33:19, 50:24-25; Ex 13:19, Js 18:9, 23, 24:21-32; Jz 1:27-28; Jo 4:5; At 7:16). Esse post é a quinta e última sequência de histórias sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Tirza protagoniza a cena. O primeiro conto foi sobre Macla, o segundo sobre Noa, o terceiro sobre Hogla e o quarto sobre Milca. Boa leitura!

Tirza Zelofeade


O povo de Israel estava com acampamento estabelecido em Gilgal, aguardando a conquista das terras. Tirza, embora estivesse adaptada àquela vida, esperava confiante o dia em que estaria em sua propriedade de direito. Os olhos dela, fixos na estrada, tentavam enxergar a figura do mensageiro do exército israelita em meio à poeira e distância.

Parte da tribo de Manassés já possuía sua herança a leste do Rio Jordão dada por Moisés, ainda assim eles pelejavam junto ao exército de Israel pela conquista de toda a Canaã. Os filhos de José, Efraim e Manassés, formavam duas tribos, porque Israel os havia tomado como filhos seus. Efraim e a outra metade da tribo de Manassés, da qual Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza faziam parte, aguardavam sua porção a ser conquistada. As batalhas prosseguiam sangrentas e longas, mas a vitória sempre era do povo de Deus.

Tirza percebeu a agitação entre os principais de sua tribo. O mensageiro estava chegando com notícias da peleja da terra que caberia por herança à tribo manassita. Ela e a sua família se dirigiram para o portal da tribo, onde uma multidão já se formava para ouvir a notícia.

O mensageiro, em tom alto e forte, anunciou:

— Mais uma vitória!

O grito de celebração do povo foi unânime. O mensageiro pediu silêncio ao povo:

— A terra é muito fértil, entretanto, encontramos dificuldades em conquistar as fortalezas dos cananeus na planície de Jezreel, ao norte, por causa de seus carros de ferro.

Aquela notícia abafou os festejos da multidão. Entretanto, no coração de Tirza a fé a deixava resoluta da vitória completa. Ela sabia que carros de ferro, fortalezas, gigantes não eram páreos para o SENHOR dos Exércitos. É certo que após anos de lutas incansáveis o povo ou o exército poderia tender ao esmorecimento, mas, ela sabia a quem recorrer.

O mensageiro correu ao próximo portal para dar o anúncio às demais tribos e a multidão começou a se dispersar repetindo a nova entre si. Tirza correu à tenda de oração das mulheres, queria ser a primeira a chegar. Cada tarde as mulheres israelitas se reuniam para orar em favor do exército de Israel. Não demorou muito e outras mulheres se juntaram a Tirza, quando Macla chegou, ficou próxima à irmã.

A oração de Tirza era um misto de agradecimentos e súplica. A própria Tirza iniciou a reunião dando uma palavra de esperança:

— Acabamos de ouvir a notícia que esperamos por tanto tempo. Nós estamos mais perto que nunca de nos estabelecermos em nossa própria terra. Não é tempo de desfalecer, vamos intensificar nossas orações e vigilância. Já sabíamos que essa terra fértil estaria habitada por pagãos, gigantes e guerreiros dispostos a defendê-la.

As mulheres estavam ouvindo atentamente, algumas com o cenho franzido de preocupação, outras sedentas por uma palavra de conforto. Tirza continuou:

— O SENHOR sempre deixou claro que Ele mesmo nos daria a vitória. Não seria pela espada de nossos corajosos guerreiros, nem mesmo pela força do braço deles que nossa terra seria conquistada. Mas, sempre o SENHOR, pela mão direita do SENHOR, pelo braço do SENHOR e pela luz do rosto do SENHOR. Tudo para provar o quanto o SENHOR nos ama.

As mulheres mais idosas lacrimejavam, sentindo paz interior nas palavras asseguradas pelo SENHOR e relembradas por Tirza. Umas se abraçaram às outras e começaram a entoar uma canção de louvor a Deus que brotava do fundo do coração. Elas acreditavam no amor de Deus, confiavam na sonhada vitória.

Horas depois os guerreiros manassitas chegaram ao acampamento trazendo consigo os despojos da batalha e os frutos da terra. A chegada deles trouxe grande consolo para as esposas e mães saudosas, os filhos pulavam tamanha a alegria. Eles descreviam com muita empolgação e admiração toda a riqueza em água, fertilidade e beleza da terra que o SENHOR lhes dava.

A mudança estava prestes a começar, não demorou muito e Tirza ouviu o anúncio da partida:

— Povo de Israel, nosso líder Josué convoca a todos para juntos adorarmos ao SENHOR em Siló, local onde a Tenda do Encontro será estabelecida. Lá também serão lançadas as sortes e distribuídas as terras conforme suas divisões perante o SENHOR.

Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza se juntaram e deram as mãos, elas iriam se apresentar a Josué para receberem a herança prometida.

Ao chegar em Siló, o povo se acomodou em suas tendas, em suas respectivas tribos, e a grande festa teve início com muitos louvores, sacrifícios e holocaustos ao SENHOR.

Terminada a celebração, Tirza despertou com o som da trombeta convocando todo o arraial para uma reunião solene. Cada tribo se levantou e se reuniu para ouvir o importante pronunciamento acerca da divisão das terras que Josué faria.

A mensagem proferida por Josué chegava ao ouvido de todo o povo com a ajuda de homens posicionados em lugares estratégicos que repetiam a fala do grande líder.

— Grande é o povo do SENHOR, grande e fértil é a Terra que o SENHOR vos deu. Repartiremos hoje cada tribo em seu lugar.

As cinco irmãs, Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza, estavam juntas novamente, dessa vez acompanhadas por seus maridos e filhos, aguardando a distribuição da herança da tribo de Manassés. Por ordem, as tribos foram citadas até chegar à tribo de Manassés:

— A tribo de Manassés tem sua parte dividida além do Jordão, mas também dentro de Canaã, junto à Efraim.

Nesse momento, as cinco filhas de Zelofeade se aproximaram de Josué e dos príncipes, e Macla, a primogênita das irmãs, se pronunciou:

— O SENHOR ordenou a Moisés que nos desse herança no meio de nossos irmãos, desde que nos casássemos com nossos primos, conforme a ordem do SENHOR assim fizemos. E aqui estamos nós, relembrando aos senhores essa ordem e também requerendo nossa porção.

Os olhos de Josué brilharam, ele – que era da tribo de Efraim, irmão de Manassés – se alegrava sempre que encontrava servos de Deus, obedientes, fiéis e pacientes, como elas.

— Não nos esquecemos. Vocês receberão um quinhão cada uma, no meio da herança dos irmãos de seu pai.

A alegria, contentamento e realização se tornou visível nas feições delas. Entretanto, a casa de José, composta pelos efraimitas e manassitas, trouxeram uma questão à tona: a terra deles não havia sido completamente tomada, havia os cananeus e seus carros de ferro ao norte.

— Josué, vede o quanto Deus nos fez crescer e prosperar. E a herança que nos foi dada não é proporcional à nossa grandeza e riquezas.

Josué tossiu ao rir:

— Se és um grande povo como diz ser, habitem no bosque ao sul, nas montanhas de Efraim, basta que cortem as árvores.

Eles replicaram:

— O bosque nos montes, ao sul, não seria suficiente para nós, e ao norte, na Planície de Jezreel, não podemos habitar devido a resistência dos cananeus, com suas cidades fortificadas e seus carros de ferro.

Josué suspirou e disse:

— Realmente vocês são muitos e tem também uma grande força. Cortem o bosque ao sul, habitem lá. Quanto aos cananeus ao norte vocês conseguirão expulsá-los, ainda que tenham carros de ferros e sejam fortes.

Josué ainda tinha uma lista de outras sete tribos com terras por conquistar:

— Até quando sereis negligentes em possuir toda a terra que o SENHOR vos deu? Vão conquistá-la e me tragam um mapa com a demarcação da terra, depois repartiremos diante do SENHOR as sete partes que faltam!

Os capitães, guerreiros de cada tribo se uniu em só exército, saíram com a benção de Deus e só voltariam com a vitória completa.

Tirza e as demais mulheres de Israel mantinham um ciclo de oração contínuo, elas entendiam que a guerra também era espiritual.

Os cananeus quando viram o grande exército de Israel, acabaram estendendo a bandeira branca, mas não quiseram deixar a terra, assim se tornaram tributários dos israelitas.

O exército seguiu em frente, conquistando toda a terra. A demarcação da terra conquistada foi feita pelos vinte e um homens designados por Josué, três de cada tribo, eles realizaram a devida anotação num livro.

O retorno do vitorioso exército israelita foi comemorado por dias. As mulheres cantavam, dançavam e tocavam seus tamborins. As crianças pulavam festejando. Os despojos os deixaram muito ricos! A terra era fertilíssima! A alegria era completa.

Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza deram as mãos, formando um grande círculo, incluindo seus maridos e filhos, fecharam os olhos para agradecerem juntos a Deus pela conquista:

— SENHOR queremos te agradecer por atender nossa petição… – Foi o que Macla conseguiu dizer, sua garganta embargou com uma enxurrada de lágrimas de gratidão.

— O SENHOR provou que nos ama. E nós queremos te dizer que também te amamos. Agradecemos ao SENHOR, por nos oferecer o teu amor. E te agradecemos pela tua graça em nos fazer aceitáveis diante de ti. – Noa completou com o coração acelerado.

Hogla continuou a oração de agradecimento:

— Somos gratas por abençoar nossos casamentos que foram preparados e escolhidos pelo SENHOR.

— Queremos te agradecer também por dar descendência ao nosso pai. SENHOR, eu te agradeço pelos nossos filhos, pela saúde e força. – Milca abriu os olhos para contemplar cada filho e sobrinhos.

Tirza finalizou a oração:

— SENHOR, nós te agradecemos por nos tirar do Egito, por nos guiar pelo deserto, por nos fazer conquistar e possuir essa terra próspera. O SENHOR é fiel para conosco, e, como somos filhas tuas, queremos ser igualmente fiéis a ti.

Josué despediu todo o povo a seus lugares e possessões. O povo saiu com o coração transbordante de alegria. A terra que as aguardava era muito linda, o verde a perder de vista, os frutos suculentos e saborosos, águas cristalinas, tinham tudo e em fartura.

Quando a primeira estaca da tenda foi fincada, Tirza lembrou-se do significado de seu nome: Aprazível. Deus havia acabado de cumprir o desejo do coração de seu pai, dando a elas uma terra cujo prazer se estenderia por gerações. Tirza continuou seu trabalho com um sorriso no rosto.

Quando toda a terra estava em paz, Josué tornou a convocar os anciãos, líderes e oficiais de Israel, reuniu todo o povo na cidade de Siquém, que pertencia aos filhos de José.

— José, filho de nosso patriarca Israel, sonhou com este dia, confiante na palavra dita por Deus a nosso pai, Abraão, de que daria toda essa terra à sua descendência. Por isso, José fez seus irmãos prometerem que não o deixaria ser enterrado no Egito, mas que seus ossos seriam transportados quando o povo de Israel saísse do Egito, para ser enterrado em Canaã. Após 234* anos da morte de José, os seus ossos finalmente serão enterrados, aqui, na Terra Prometida e Conquistada. Deus tem nos mostrado sua fidelidade ao cumprir Sua Palavra, agora é a vez de vocês mostrarem fidelidade a Deus para que alcancem a Canaã Celestial.

Todo o povo fez uma promessa solene de que seriam fiéis ao SENHOR. E no coração de Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza ardia o desejo de serem herdeiras da Canaã de Deus, e elas não se importavam quanto tempo mais esperariam.

*José morreu por volta do ano de 1606 a. C. e o sepultamento de seus ossos ocorreu por volta de 1372 a. C., totalizando 234 anos de espera.
Referência:
A Bíblia em Ordem Cronológica: Nova Versão Internacional/edição autorizada da obra de Edward Reese (org.); tradutor Judson Canto (títulos e textos explicativos). São Paulo: Editora Vida, 2003.

Mulheres da Bíblia: Milca, a filha de Zelofeade (N° 4)

Este conto foi inspirado na bela história escrita em Números 27 e 36 e Levítico 12:1-8. Esse post é a quarta sequência de histórias sobre as filhas de Zelofeade, dessa vez Milca protagoniza a cena. O 1º conto foi sobre Macla, o 2º sobre Noa e o 3º sobre Hogla. Boa leitura!

Milca Siquém Zelofeade

Milca havia se divertido durante a gravidez, sem enjoos, aproveitou cada chute do bebê, ela até mesmo rira do desespero do marido quando a bolsa estourou. A situação começou a mudar quando as contrações chegaram. As gotas de suor, o rosto contraído, as lágrimas, as mãos frias e a dor tornavam o quadro do parto aterrorizante para Milca, mas não para Queila, parteira em Israel. Ela estava satisfeita com a dilatação, ajudava Milca a sincronizar o ritmo da respiração e a incentivava com palavras gentis.

Siquém estava agitado e muito preocupado, ficou próximo ao local reservado às mulheres nesse estado. Próximo o suficiente para ouvir os gritos de sua esposa, quanto mais Milca gritava, mais aflito ficava. Ele sentava, para no mesmo instante levantar-se e andar igual a um leão enjaulado, sem qualquer controle ou percepção do que fazia. Iniciava preces, para logo ser interrompido com os gritos de dor da sua esposa. Ele afirmava que estava tudo bem, mas não relaxava e começava a ficar mal-humorado com a espera. Os seus familiares tentavam em vão travar algum assunto para que se distraísse durante o processo, mas desistiram ao perceber que ele só sossegaria ao ouvir o choro do bebê. Quando Milca terminou de dar o grito mais alto a parteira anunciou:
— É um menino!
E logo em seguida o choro vigoroso do bebê fez Siquém rir alto.

Milca recebeu seu filho enrolado em lençóis limpos, ela esqueceu de toda a dor ao contemplar a beleza do pequeno.

— Milca! – Era Siquém que havia invadido o recinto arrebatado de emoção – Ele se parece comigo ou com você?

— Venha e veja por si mesmo. – Ela ajeitou o bebê em seus braços – Acho que ele se parece com o avô.

— Ele se parece com meu pai, Semida?

— Não. Com meu pai, Zelofeade.

Siquém olhou para ela sorrindo:

— Ele será o segundo Zelofeade, é isso?

O bebê produziu um pequeno ruído, os pais riram da objeção do pequeno. Eles guardaram segredo a respeito do nome do filho, só revelariam no momento oportuno.

Enquanto Milca permanecia separada, até que se completasse os sete dias ordenados na lei, ela se deliciava em aprender a cuidar de seu filho, tudo a deixava extasiada, ela aprendia a identificar os tipos de choro dele, e nas primeiras noites mal conseguiu dormir, mas por puro excesso de cuidados. No sétimo dia ela se banhou e preparou o bebê para a cerimônia de circuncisão no dia seguinte.

O pequeno era a mais nova sensação da família. Todos queriam conhecê-lo e levaram presentes para ele. O próprio Siquém circuncidou seu filho:

— Como sinal que você pertence ao Eterno e faz parte da grande nação de Israel, em cumprimento ao pacto de nosso pai Abraão, você será limpo hoje. – Siquém circuncidou o filho e continuou: – Eu te nomeio Zelofeade, filho de Siquém e de Milca, filha de Zelofeade, filho de Gileade, filho de Maquir, filho de Manassés, filho de José, filho de Israel, filho de Isaque, filho de Abraão.

Ele elevou seu filho ao alto, as bochechas de Zelofeade ficaram rosadas, até conseguir chorar e ficar com o rostinho todo vermelho. Os presentes sorriram emocionados. Milca sorria entre lágrimas, achava graça em como Siquém já ansiava ensinar a lei de Deus para seu filho, e chorava agradecida em saber que era mais abençoada do que supunha. A herança dela, a terra, o esposo e o primeiro filho, era um memorial da graça de Deus, que não deixou seu falecido pai sem descendentes.

Após cumpridos os trinta e três dias da purificação de Milca, conforme a ordenança de Deus, a pequena família se reuniu para ir à porta da Tenda do Encontro oferecer um cordeiro de um ano por holocausto e o sacerdote Eliezer abençoou o robusto Zelofeade:

— Que o SENHOR multiplique sua força e te faça crescer em sua tribo. – Virando-se para os orgulhosos pais, ele falou: – E também vos dê mais filhos!

Clique no link para ler a quinta e última história da sequência:
Mulheres da Bíblia: Tirza, a filha de Zelofeade (N° 5)

Clique no link para ler os 5 contos em PDF:
[As Filhas de Zelofeade – PDF]